Escrever
aqui para quê? Para manter a sensação ilusória de que sou fixe.
Ilusória porque ultimamente tenho tido a sensação de ser preconceituosa
e, para mim, isso não é fixe.
Formar
ideias sobre a vida das outras pessoas só com base na sua imagem, ou
com base num conhecimento escasso do seu modo de vida, sem conhecer
essas pessoas parece-me inútil. Enquadrar pessoas num padrão não é
engenharia, onde a matemática fornece uma base para uma espécie de
futurologia que depois resulta, se bem aplicada.
No
dia 1 de Dezembro de 2017, um jornal diário tinha na capa o seguinte
título: "Mulheres que não querem ser mães". Na capa, destacava-se ainda
«7,3% das portuguesas em idade fértil não querem ter filhos»,
apresentando ainda uma declaração da socióloga que estudou o que é
referido como tabu: «Anseio pelo dia em que as mulheres possam não ser
mães sem terem de provar alguma coisa em troca». Palavras
surpreendentemente incisivas, as da socióloga. Não comprei o jornal e
não li o conteúdo da entrevista. O título em letras garrafais prendeu a
minha atenção, porque parecia que me estava a acusar.
Nunca
me ouvirão dizer «Não quero ter filhos.», muito embora me possa
arrepender de usar uma palavra tão forte como nunca. A verdade é que a
capa do jornal não dizia «10% dos homens portugueses em idade fértil não
querem ter filhos».
Não faço a mais pequena ideia da percentagem de portugueses que quer ou não quer ter filhos. Aquilo que sei é que tenho 33 anos e não tenho filhos, mas não é por não querer. Será que 7,3% das portuguesas em idade fértil comprariam o jornal se dissesse «Mulheres sem filhos estão fartas de mulheres com filhos que não sabem falar de outra coisa»? Não, porque o que sentem as mulheres sem filhos não é relevante sociologicamente.
Não faço a mais pequena ideia da percentagem de portugueses que quer ou não quer ter filhos. Aquilo que sei é que tenho 33 anos e não tenho filhos, mas não é por não querer. Será que 7,3% das portuguesas em idade fértil comprariam o jornal se dissesse «Mulheres sem filhos estão fartas de mulheres com filhos que não sabem falar de outra coisa»? Não, porque o que sentem as mulheres sem filhos não é relevante sociologicamente.
Será
que a notícia falava da desconfiança com que são olhadas as mulheres
sem filhos no seu trabalho pelas suas colegas? Ser mulher e não ter
filhos requer uma segurança pessoal que justifique o facto e que garanta
à sociedade que a inércia na reprodução que este grupo de mulheres
representa não põe em causa a máxima «as crianças são o melhor do
mundo». Porque o são.
Então,
acho que há algum preconceito em relação a uma mulher sem filhos. Mas
há, ainda, tanto preconceito, alguns capazes de gerar guerras. Este é
mais um. E a sobrevivência da espécie não está em causa, penso eu.
Tudo isto para dizer que hoje fiz o presépio. E, apesar de não ter filhos, não deixo de dar valor ao que ele representa.